domingo, 6 de setembro de 2009

História do cordel através dos versos

Conheça a história do cordel através dos versos.




O CORDEL: SUA HISTÓRIA, SEUS VALORES
Autores: Marco Haurélio e João Gomes de Sá




No Nordeste brasileiro,
Conservados na memória,


Romances, contos e xácaras

Lembravam a antiga glória

De Portugal e da Espanha,

De que nos fala a História.




Era esse o tempo das gestas

Dos cavaleiros andantes,

E essa poesia rude
Dos bardos itinerantes
Foi trazida para a América


No bojo dos navegantes.




Essa poesia foi
Cantada pelos jograis,


Celebrando os grandes feito

Dos heróis medievais

E também falando sobre

Romances sentimentais.




E quando começa o ciclo

Das Grandes Navegações

De Portugal e da Espanha,

As antigas tradições

Vão se acomodando aos poucos

Pelas novas possessões.




No Brasil, as tradições

Assim vão se fixando,

Com as levas de colonos

Nas caravelas chegando,

As regiões litorâneas

Vão pouco a pouco tomando.




O índio, dono da terra,

Pra não ser escravizado,

Vivendo no litoral

E se sentindo acossado,

Resiste, contudo vê

O seu esforço baldado.






Da África chegam os navios

Dos traficantes negreiros,

Que tornarão em escravos

Os que antes eram guerreiros

E que agora vão servir

À sanha dos fazendeiros.




As etnias e as crenças

São assim amalgamadas

E a cultura popular

Vai recebendo camadas,

Que em todos os segmentos

Até hoje são notadas.




Eis um resumo apressado,

Contudo bem consistente

Para mostrar que a arte

Não brota espontaneamente,

E com o nosso cordel

Também não é diferente.




No Brasil colonial

Um embrião já havia

Do cordel na conhecida

Tradicional poesia,

Ou mesmo na catequese

Que a Igreja promovia.




Excertos da tradição

Que no cordel se encerra

Estão na obra do vate

Gregório de Matos Guerra,

Que foi o maior dos sátiros
À habitar esta terra.




Já no século XIX,

No Brasil imperial,

Resistia a escravidão

Um desnecessário mal.

Esse regime abjeto

Na pena teve um rival.


Foi o bardo Castro Alves,

Grande poeta baiano,

Que na arte que abraçou

No Brasil é soberano,

Lutando contra a injustiça,

No verso se fez arcano.




O grande Gonçalves Dias,

Dos termos do Maranhão,

Compôs na velha linguagem

Sextilhas de Frei Antão.

Portanto, também está

Na linha de evolução.




Porém é da pequenina

Paraíba o privilégio

De ver nascer o poeta

Que empunha o cetro régio

Da poesia do povo,

Templo majestoso, egrégio.




Leandro Gomes de Barros

É o nome do menestrel

Que deu forma e deu essência

Ao que chamamos cordel,

Que da tradição oral

Migrava para o papel.




Grande poeta satírico

E lírico maravilhoso,

Escreveu obras eternas

Como O Boi Misterioso,

E A Donzela Teodora,

De modo criterioso.




De sua lavra saíram

O Reino da Pedra Fina

Também O Príncipe e a Fada,

Que são Baman e Gercina

E o clássico inigualável

Chamado Alonso e Marina.




Outro grande pioneiro

É Silvino Pirauá,

E entre ele e Leandro

Sempre se perguntará

Quem foi que editou primeiro,

E a dúvida persistirá.



Pirauá era de Patos

E Leandro de Pombal.

Ambos vão pra o Recife

E lá se encontram afinal,

Onde Pirauá se mostra

Um cantador genial.


Pirauá introduziu


Na cantoria a sextilha,


Também inventou a deixa,


Que foi uma maravilha.


É por isso que seu nome


Entre os pioneiros brilha.




O Capitão do Navio

É a ele atribuído

E Zezinho e Mariquinha,

Outro folheto querido,

Da memória popular

Nunca mais foi esquecido.




Também entre os pioneiros

Deve ser mencionado

José Galdino, o Zé Duda,

Poeta bem inspirado,

Repentista e de bancada,

Nos dois gêneros afamado.




E Pacífico Pacato

Cordeiro Manso também

Um poeta alagoano,

Que nunca usou de desdém,

Foi um poeta-repórter

Como os que hoje inda tem.




João Melquíades Ferreira

Dedicou-se à cantoria

E no cordel escreveu

O Valente Zé Garcia.

Severino Milanês

Versava com maestria.




E João Martins de Athayde

No cordel foi professor.

Quando Leandro morreu,

Ele tornou-se editor,

Comprando a obra do mestre

Por irrisório valor.




E por quase trinta anos

Escreveu e editou.

Delarme, um jovem tipógrafo,

Que Athayde contratou,

Aprendeu tanto a lição

Que ao próprio mestre ensinou.




Em Recife, onde Leandro

Antes se havia instalado,

Athayde radicou-se

Como editor afamado,

Até por Mário de Andrade

Foi bastante elogiado.




Porém, antes de Athayde,

Na Parahyba do Norte,

Francisco Chagas Batista

Ao cordel dava suporte,

Transformando Guarabira

Num centro difusor forte.




Compôs com Leandro a gesta

Do grande Antônio Silvino,

Que antes de Lampião –

Batizado Virgulino –

Tonou-se o mais afamado

Cangaceiro nordestino.




Chagas Batista, porém,

Sobressaiu-se aos seus pares

Quando escreveu Cantadores

E Poetas Populares,

Que como estudo se mostra

Grande entre seus similares.




José Camelo de Melo

Foi poeta imaginoso.

É o autor do Romance

Do Pavão Misterioso,

O Bom Pai e o Mau Filho,

Outro clássico valoroso...




A Verdadeira História

De Joãozinho e Mariquinha,

Coco Verde e Melancia,

Também Pedrinho e Julinha.

Poeta igual Zé Camelo

Naquele tempo não tinha.




Joaquim Batista de Sena

No verso foi magistral,

Era um editor regido

Pelo espírito fraternal.

A Filha Noiva do Pai

É um título genial.




Neste momento voltamos

A falar de Athayde,

Que no final dos 40,

Já alquebrado, decide

Vender a José Bernardo

Os frutos de sua lide.




José Bernardo da Silva,

Um grande empreendedor,

Que em Juazeiro do Norte

Tornar-se-ia editor,

Pois era de Padre Cícero,

Um sincero seguidor.




Zé Bernardo, alagoano

Radicado em Juazeiro

Com sua tipografia

Naquele grande celeiro

Tornou-se uma referência

Para o cordel brasileiro.




Mesmo no Norte, o cordel

Teve um momento brilhante

Com a célebre Guajarina

Fundada por um migrante

Nordestino no Pará,

Num tempo que vai distante.




Francisco Lopes, nascido

No solo pernambucano,

Em Belém, na Guajarina,

Já no décimo quarto ano

Do século que se findou,

Foi quem reinou soberano.




No Norte editou folhetos

Do poeta genial

Piauiense, Firmino

Teixeira do Amaral,

Que nas pelejas forjadas

Jamais encontrou rival.




Pois colocou frente a frente

Num incrível baticum

O Cego Aderaldo com

Zé Pretinho do Tucum,

Mas sendo este fictício,

Foi um duelo incomum.




Luís da Costa Pinheiro

É outro bardo editado

Em Belém por Chico Lopes,

E até hoje é procurado

Seu romance

O Papagaio Misterioso falado.




Manoel Camilo dos Santos

Também se destacaria

Em Guarabira e Campina,

Na Estrella da Poesia;

O país São Saruê

Descreveu com galhardia.




Em Recife inda surgiu

Outra editora de porte

Porque João José da Silva

Dirigiu e deu suporte

À tipografia que

Chamou Luzeiro do Norte.




Poetas dos mais famosos

Nela foram publicados.

José Camelo de Melo,

Dos mais reverenciados,

Na Casa de João José

Teve livros editados.




Severino Borges Silva

Compôs obras geniais.

O Verdadeiro Romance

Do Herói João de Calais

Deixou seu nome gravado

No Livro dos Imortais.




Inda é autor dA Princesa

Do reino do Mar Sem Fim.

Caetano Cosme da Silva,

Guiado por Eloim,

Fez O Assassino da Honra

Ou A Louca do Jardim.




Manoel Pereira Sobrinho

Teve grande projeção,

Pois Dimas e Madalena,

Rosinha e Sebastião

E Helena, a Virgem dos Sonhos,

Entre os clássicos estão.




Vamos citar Zé Faustino,

Apolinário Pereira

Severino Milanês

E Cirilo de Oliveira,

Manoel Cândido da Silva,

Trovadores de primeira.



Mas o cordel vicejou

Muito além da Paraíba,

Pois em Sergipe há nomes

Que nem o tempo derruba

Como Sátyro Xavier

E o Trovador Cotinguiba.




Do imortal Zé Pacheco

Consta no nosso caderno

A Princesa Rosamunda.

E outro clássico eterno

É o folheto A Chegada

De Lampião no Inferno.




Francisco Sales Arêda

Jamais fez um verso atoa

Versou sobre Malazarte

E fez com prosódia boa

O Romance de João Besta

E a Jia da Lagoa.




Já João Ferreira de Lima

Fez história no sertão.

As Proezas de João Grilo,

Sua maior criação,

Se situa ao lado de

José de Souza Leão.




Na Paraíba nascido,

Em Sergipe radicado,

Manoel D’Almeida Filho

Sempre é reverenciado,

Como um dos grandes valores

Que editaram no passado.






À Editora Luzeiro

Servia de consultor,

Vendeu milhões de exemplares,

Como grande trovador,

E é referência pra muitos

Que admiram seu valor.




A Luzeiro a quem Almeida

Dedicou o seu talento,

Surgiu em 73,

Mas foi um desdobramento

Da Editora Prelúdio,

Nascida noutro momento




A Tipografia Souza

Por um português fundada

Em Editora Prelúdio

Nos 50 é transformada.

Arlindo Pinto de Souza

Lidera a nova empreitada.




Com Antônio Teodoro

Dos Santos cresce o cordel

Na capital bandeirante,

Cumprindo um outro papel

Diferente no formato,

Mas à essência fiel.




Teodoro era baiano,

Assim como Minelvino,

Que vê sua obra no centro

Editorial sulino

Alçar vôo considerável,

Além do chão nordestino.




De Alagoas pra Bahia

Vem Rodolfo Cavalcante.

Era poeta de méritos,

Porém nunca foi brilhante,

Mas como líder da classe

Foi ele o mais importante.




Organizando congressos,

Criando agremiações,

Rodolfo batalhou sempre

Por melhores condições

Pra os poetas que inda hoje

Aplaudem suas ações.




Citemos Antônio Eugênio,

Por dever e por estima,

O grande Apolônio Alves

E Natanael de Lima,

Que ao lado dos outros mestres

Estão no andar de cima.




Cuíca de Santo Amaro

Foi um mau versejador,

Sempre de fraque e cartola,

Nas ruas de Salvador,

Fez do sensacionalismo

O seu mote propulsor.




Grande poeta e xilógrafo

É mestre Enéias Tavares,

Também Cícero Vieira,

Entre os vates populares,

Escreveu obras de peso,

Que inda vendem aos milhares.




Dos xilógrafos que escrevem,

Dila se inclui entre os tais,

J. Borges em Bezerros

É conhecido demais.

Antônio Lucena dorme

O sono dos imortais.




Já João Firmino Cabral,

Poeta conceituado,

Por Gregório Nicoló

Na Luzeiro é editado.

E de Manoel D’Almeida

É seguidor declarado.




Desta geração lendária

Brilha Manoel Monteiro.

Mestre Azulão é arauto

Lá no Rio de Janeiro,

Costa Leite é xilógrafo

Famoso no mundo inteiro.




Em São Paulo Jota Barros

Foi peça muito importante;

Em Patos, Antônio Américo

É verdadeiro gigante.

Na Bahia, Antônio Alves

É estrela fulgurante.




Também Gonçalo Ferreira,

Unindo a experiência

Ao saber adquirido

E à inata inteligência,

Divulga nos seus folhetosI

Informação e ciência.




Preside a Academia Brasileira de Cordel –

Por sigla ABLC –

Recanto do menestrel,

Onde todos são bem vindos,

Do mascate

ao bacharel.




Filho de Francisco Chagas,

Pioneiro cordelista,

Em Anápolis reside

O Paulo Nunes Batista,

Autor de Zé Bico Doce

E brilhante ABCdista.




O cordel está presente

No centro-sul do país

Na arte de Cícero Pedro

E do maranhense Assis,

Costa Senna e Cacá Lopes,

Fazendo o povo feliz.




Moreira de Acopiara

É cordelista aclamado;

E Sebastião Marinho,

Paraibano arretado,

Valdeck de Garanhuns,

Mamulengueiro afamado.




Da novíssima geração

Sobressaem no momento

O jovem Jenerson Alves

E Varneci Nascimento.

Fazem crítica social,

Com muito discernimento.




No Rio, Marcus Lucena

É músico e cordelista;

Bráulio Tavares, poeta,

Escritor e ensaísta;

Chico Salles faz cordel

E é um grande sambista.




Marcelo Soares deve

Ser citado com louvor,

Porque no verso faz arte

E na xilo é professor.

Filho de José Soares,

Respeitado trovador.




Fazendo história na terra

Do velho cego Aderaldo,

Surgiu a Tupynanquim

Com elenco de respaldo:

Rouxinol do Rinaré,

Com Klévisson e Arievaldo.




O Evaristo Geraldo

É irmão de Rinaré.

No Ceará também brilham

Gonzaga de Canindé,

E Pedro Paulo Paulino,

Em quem pomos muita fé.




Zé Maria em Fortaleza,

Cordelista e cantador,

Geraldo Amâncio Pereira

Dispensa apresentador,

O poeta Vidal Santos

É outro batalhador.




O Rio Grande do Norte

Volta a seus dias de glória,

Pois lá Antônio Francisco

Há anos já faz história

E Luiz Campos também

Traça bela trajetória.




Mas as mulheres também

No cordel marcam presença:

Maria Ilza Bezerra

Escreve debate e pensa

Como Clotilde Tavares,

Que tem verve e tem sabença.




Duas outras editoras

Fazem bonito papel:

Queima-Bucha em Mossoró

Dignifica o cordel;

E a Coqueiro no Recife

À nossa arte é fiel.




Já o autor deste folheto

É natural da Bahia.

O seu nome é Marco Haurélio,

Um servo da poesia,

Que em palestras e oficinas

Aos mestres reverencia.




João Gomes, que é da obra

Grande colaborador,

Xilógrafo alagoano,

Poeta, pesquisador,

Premiado teatrólogo,

Músico e compositor.




Desde já agradecemos

Pela sua paciência

Ou mesmo a sua leitura,

Porque temos consciência

Sem leitor não há cordel

E o prêmio do menestrel

É sua honrosa audiência.




(postado por Marina n°24, 6ªD)

Um comentário:

  1. realmente é uma bela revisão da história do cordel, gostei muito !!!!

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