quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Mario Zanini










Ao longo de seus 47 anos, divididos entre uma dura jornada de trabalho e sua paixão pela pintura, Mário Zanini documentou, com simplicidade e emoção, muitos dos aspectos e personagens que foram, paulatinamente, desaparecendo do cenário da cidade. Lavadeiras, banhistas ou regatas no rio Tietê são registros plásticos de que esta Paulicéia Desvairada já foi, também um dia, bucólica, provinciana e sobretudo humanamente habitada.
Filho de imigrantes italianos, Mário Zanini nasceu em São Paulo em 1907 e faleceu na mesma cidade em 1971. Cursou o primário num grupo escolar do Cambuci, bairro onde passou quase toda a vida.
Aos 13 anos, matriculou-se no curso de pintura da Escola Profissional Masculina do Brás, que freqüentou de 1920 a 1922. De 1922 a 1924 foi letrista da Companhia Antártica Paulista, no bairro da Mooca; desde 1922 fazia cópias de pinturas antigas, e em 1923 pintou sua primeira paisagem e após este período, frequentou curso noturno do Liceu de Artes de Ofícios (1924-26).
Em 1927 época que, trabalhando como mestre-decorador de residências, conhece Volpi seu vizinho no Cambuci. Em 1928 freqüenta por alguns meses o ateliê do alemão G. Elpons.
Por volta de 1934, passa a dividir com Rebolo uma sala alugada no Palacete Santa Helena, a fim de facilitar a contratação de serviços de pintura e decoração. Meses depois, muda-se para uma sala ao lado, que viria a dividir com Manoel Martins e Clóvis Graciano. É desta convivência cotidiana e afinidade de interesses que surge o chamado Grupo do Santa Helena, núcleo central dos futuros salões da Família Artística Paulista, a FAP, e da OSIRARTE, ateliê-oficina de azulejos artísticos, comandado por Rossi Osir.
Desde 1934 participava de coletivas, e em 1939, expondo no II Salão da Família Artística Paulista, recebe de Mário de Andrade, a seguinte crítica: «Este meu xará foi para mim uma revelação. É difícil diagnosticar se a diversidade de seu atual manejo do pincel indica riqueza ou indecisão, mas pressinto nele o estofo de um grande paisagista.»
Como paisagista, Zanini interpretou, com simplicidade e emoção, a natureza nas imediações de São Paulo.
O ano de 1940 é de muita atividade e progresso: Zanini, expondo na Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes, recebe a medalha de prata (ganharia o prêmio de viagem ao país em 1941).
Zanini realizou pouquíssimas individuais, sendo que a primeira deu-se em 1944, na Livraria Brasiliense; a segunda ocorreu em 1962, na Casa do Artista Plástico de São Paulo e agrupava 81 pinturas; a terceira teve lugar em Porto Alegre, na Galeria Pancetti, em 1966.
A presença de Zanini se verificava invariavelmente nas coletivas, como o Salão Baiano de Belas Artes, a Bienal de São Paulo (1951 a 1955, 1959), o Salão Paulista de Arte Moderna (prêmio de viagem ao país em 1955), o Salão Paranaense de Belas Artes, etc.
Sua grande frustração foi a de nunca ter sido contemplado com o prêmio de viagem ao exterior. Por sua própria conta, viajou à Itália, na companhia de Volpi e Rossi Ozir, lá permanecendo de abril a outubro de 1950.
No início da década de 1950, ao retornar de uma viagem a Europa, encontra o cenário artístico do país consumindo-se no confronto abstração versus figuração. A fim de avaliar, então, o que tantos perseguiam, incursiona rapidamente pela abstração geométrica. Insatisfeito, no entanto, com tal experiência, retorna definitivamente à figuração, à temática social, ao exercício da pintura ao ar livre e do desenho com modelos vivos.
Mário Zanini também lecionou, a partir de 1968, na Faculdade de Belas Artes de São Paulo (dez anos antes ensinara gravura na Associação Paulista de Belas Artes e na Escola Carlos de Campos), e participou, como jurado, de várias comissões de organização ou de seleção e premiação de certames artísticos.
Distante do litoral, sua presença como marinhista é menos constante, mas não menos notável. Enveredou pela natureza morta e, acidentalmente, fez algumas aproximações ao abstracionismo, sem nunca ter se fixado nesse gênero.
Sua pintura, ora se assemelha à de Volpi, ora à de Rebolo. O que, entretanto, o distingue dos demais integrantes do Grupo do Santa Helena e da Família Artística Paulista é o seu colorido, intenso, profundo, quase fauve: ao lado de Volpi, Zanini é, na verdade, um dos grandes coloristas da moderna pintura brasileira. Executou também cartões para azulejos, e teve no desenho e na gravura, naquele principalmente, meios expressivos de que fez uso com sensibilidade e inteligência.
Três anos após seu falecimento, a Opus Galeria de Arte realizou uma retrospectiva, reunindo 39 obras pertencentes a colecionadores e amigos. Coincidentemente, nesse mesmo ano, a familia de Zanini doou ao MAC-USP 108 obras envolvendo as várias fases do pintor. Isso permitiu que, em 1976, esse Museu realizasse uma consistente retrospectiva com 205 trabalhos seus, envolvendo pinturas, desenhos, gravuras e cerâmicas.

Cronologia


Pintor, decorador, ceramista, professor.
1920/1922 - Faz curso de pintura na
Escola Profissional Masculina do Brás.
1922/1924 - Trabalha como letrista na Companhia Antarctica Paulista.
1924/1926 - Curso noturno de desenho e artes no
Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo - Laosp.
1928 - Frequenta o ateliê de Georg Elpons (1865-1939).
1935 - Participa da formação do Grupo Santa Helena.
1936 - Participa da formação do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo.
1937/1941 - Participa da Família Artística Paulista, fundada por iniciativa de Rossi Osir (1890-1959) e Vittorio Gobbis (1894-1968).
1940/1958 - A convite de Rossi Osir, trabalha na Osirarte, atelier especializado na arte do azulejo.
1947 - Estuda gravura no ateliê de Manoel Martins (1911-1979).
1950 - Realiza viagem de estudos para a Europa, em companhia de Rossi Osir e Alfredo Volpi (1896-1988).
1951 - Freqüenta o ateliê de Bruno Giorgi (1905-1993), dedica-se à cerâmica.
1958 - Freqüenta o ateliê de Angelo Simeone (1899-1974) e João Simeone (1907-1969).
1958 - Professor de gravura na Associação Paulista de Belas Artes e na Escola Carlos de Campos.
1968 - É contratado como professor de xilogravura pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo.


Obras de Mario Zanini





Retrato de Hilde Weber , 1938
óleo sobre tela (54,5 x 46 cm)



Canindé, 1940

óleo sobre tela (32,8 x 46,3 cm)







Igreja de São Vicente, 1940
óleo sobre tela ( 33,3 x 45,8 cm)






Lutadores , 1943
óleo sobre tela (50,2 x 70 cm)






Casas, 1950
óleo sobre papelão (35,5 x 42,4 cm)





Casas , 1960
óleo sobre papel kraft (55 x 46 cm)




Referências

www.mac.usp.br
www.itaucultural.org.br/.../index.cfm?...

www.pinturabrasileira.com.br


(Postado por Marina nº24 -6D)

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